sexta-feira, 30 de março de 2012

Relatos de mães do Thema sobre a chegada de um novo irmão


1)
“A chegada do 2º ou 3º filho
Eu e meu marido passamos por ambas as situações, sendo que a chegada do 2º filho foi cercada de expectativa e ansiedade, pois afinal não tínhamos experiência no assunto, nós não sabíamos qual seria reação de nossa filha então com 2 anos e meio, e queríamos muito preservá-la de qualquer sofrimento que a nova realidade pudesse trazer.
Nós sempre procuramos conversar sobre a situação e desenvolver estratégias para diminuir o possível ciúme e insegurança, acho fundamental o casal estar em sintonia nesse objetivo e visualizar possíveis ações futuras.
Hoje eu olho para trás e acredito que a angústia era maior em nós mesmos do que propriamente em nossa filha, mas enfim estamos vivendo e aprendendo.
Com a convicção de que a vinda do irmão seria muito benéfica para nossa filha, nós procuramos conduzir essa adaptação à chegada do irmão da melhor maneira possível.
Nós adotamos a postura de sermos sinceros diante dos questionamentos e sermos coerentes em nossas atitudes para que ela sentisse tranquilidade e confiança no nosso amor.
Eu tive uma segunda gestação difícil e repleta desses probleminhas de gravidez (perda de liquido, envelhecimento de placenta etc.), então eu tive que me preservar ao final da gravidez, a minha filha me pediu colo em muitos momentos eu lhe dizia que eu poderia dar colo apenas sentada, o que ela aceitou a contragosto, quando seu irmãozinho veio para casa, ela me vigiava silenciosamente como quem esperava um deslize para clamar por justiça, então dei colo a ambos sempre sentada.
A mal falada regressão onde volta o xixi fora do vaso não ocorreu, acredito que muito pela ajuda do papai, sempre disposto a brincar e dar atenção a nossa filha, a mim cabiam os momentos de contar estórias ou dar o colinho.
Eu acho que a coerência esta em preservar essa atenção e carinho após o nascimento do irmão, o que não é nada fácil, pois o nosso tempo se torna muito mais escasso.
O nascimento do nosso terceiro filho tinha tudo para ocorrer na santa paz, afinal já tínhamos experiência no assunto, a nossa filha mais velha com 5 anos na época, já tinha consciência de que o bebe não é uma "ameaça" tão grande ao amor do papai e da mamãe.
Só tínhamos que convencer o nosso pequeno homem de 3 anos que tudo estava bem e que tudo ia dar certo. Mas como a vida é uma caixinha de surpresas, fizemos uma descoberta interessante, de que nossas crianças são indivíduos com características e temperamentos diferenciados, e em consequência, com percepções diferentes às mudanças.
O meu terceiro filho nasceu prematuro e passou um tempo na UTI neo natal onde eu passava a maior parte do dia e me revezava com meu marido que ia vê-lo à noite. 
Nessa época, os meus filhinhos foram maravilhosos, pois se comportaram muito bem, passava o tempo com eles à noite, e nesses momentos dava o máximo de atenção possível, nem tive tempo para me sentir cansada.
Enfim tudo deu certo apesar do contratempo, e nosso bebê veio para casa, seus irmãos fizeram festa, e se mostraram muito felizes.
Às vezes essa questão de ciúme não se manifesta logo que o bebê nasce, ela pode ocorrer depois de um tempo, eu vivenciei isso Quando o nosso bebê tinha uns 8 meses e começou a fazer gracinhas e cativar os familiares com seu jeito mais extrovertido e "fofo" segundo palavras de minha filha.
O meu segundo filho que tem um temperamento mais reservado e tímido coincidentemente começou a apresentar sinais de irritação e dificuldade em externalizar a sua insatisfação, um novo teste para a flexibilidade e compreensão materna, pois enquanto minha filha mais velha costuma reivindicar, questionar e buscar soluções para seu problema, o meu pequeno menino se ressentia e interioriza sua frustração até mesmo se fechando, então eu me vi numa situação de reflexão/pesquisa sobre como ajudar meu filho a enfrentar sua angústia de uma maneira mais saudável.
Na verdade eu acredito cada filho é um ser humano único e não existem fórmulas genéricas e sim compreensão de que o conhecimento de cada criança vai nos ajudar a adaptá-la da melhor maneira, e que temos de ter fé nos nossos pequenos e na sua capacidade de superar essa turbulência em seu "mundinho" com a chegada do irmão.
O carinho dos pais, irmãos, familiares e amigos do Thema são valiosos para que as crianças se adaptem mais facilmente a qualquer grande mudança.
Minhas dicas:
- Seja otimista, tudo vai dar certo, quando você menos esperar você verá seu filho e seu cúmplice (irmão) unidos contestando suas regras.
- Papai e mamãe precisam dar muito carinho e atenção, coerência e firmeza nas decisões, pois dependendo da idade ainda tem o fator "birra" para agravar o quadro. 
- Envolva seu filho na arrumação/decoração do quarto do irmão que vai nascer.
- Vale comprar um presente legal para o bebê trazer quando vier para casa.”



2)
"O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem. - Rubem Alves, 2002


O jardineiro



Faz tempo ganhei um presente maravilhoso: por conta da Fundação Rockefeller passei um mês na “Villa Serbelloni“. A “Villa Serbelloni“ é um palácio, em tempos idos morada de príncipes e princesas. Quando cheguei foi um deslumbramento! Lá embaixo, o lago de Como, azul, suas margens pontilhadas com pequenas vilas. Ao fundo, os Alpes cobertos de neve. Ao redor, bosques e jardins – dezessete quilômetros para se caminhar em meio à beleza. E a cada quarto de hora se ouviam os sinos, os mesmos sinos que eram tocados há séculos. A beleza era prenúncio de um mês de felicidade! Mas, passados uns poucos dias, a tristeza bateu. A beleza dos bosques e jardins era a mesma, mas não me dava alegria. Comecei a ter saudades do meu jardim, jardinzinho que podia ser atravessado com duas dúzias de passos. Os jardins do palácio eram lindos, lindíssimos, muito mais lindos do que o meu. Mas não era o MEU jardim. Eu não os amava. O jardim que eu amava era aquele onde estavam as plantas que eu havia plantado. Senti-me igual ao Pequeno Príncipe. No seu pequeno asteroide ele tinha um jardim com uma rosa só. E ele imaginava que sua rosa era única, não havia nenhuma igual em todo o universo. Agora, caído nesse mundo, longe da sua rosa, ele estava aflito. Sozinha, quem cuidaria dela? Havia o perigo de que o carneiro a comesse... Foi então que, andando pelo mundo, ele passou por um mercado de flores. E lá ele viu o que nunca imaginara ver: centenas, milhares de rosas, todas iguais à sua rosa, sendo vendidas aos maços. O seu primeiro sentimento foi de espanto. “-Então, minha rosa não é a única! Ela me mentiu quando me fez acreditar que não havia outra igual...“ Ao espanto seguiu-se a tristeza: rosas, centenas, milhares... Seu jardinzinho era ridiculamente pequeno... Levou tempo para que ele compreendesse que sua rosa lhe dissera a verdade. “– Não! Essas rosas não são iguais à minha rosa. Não são iguais porque a minha rosa é a rosa de quem eu cuidei! Tirei as lagartas de suas folhas – nem todas é verdade, por causa das borboletas - , eu a reguei e pus uma mordaça na boca do carneiro, para que ele não comesse as suas folhas...“Os adultos têm dificuldade de entender. As crianças são mais inteligentes, elas têm a inteligência do coração. Quando morre um cachorrinho e a criança chora, os grandes se apressam em consolar: “- Não chore! Vamos comprar um outro cachorrinho igualzinho ao seu!“ Só a criança sabe que nenhum outro cachorrinho do mundo será igual ao seu cachorrinho que morreu... Foi assim que me senti em meio aos jardins da “Villa Serbelloni“: eu queria voltar para casa para cuidar do meu jardinzinho! Aprendi então a primeira lição da jardinagem. Jardins bonitos há muitos. Mas só traz alegria o jardim que nascer dentro da gente. Vou repetir, porque é importante: só traz alegria o jardim que nascer dentro da gente. Plantar um jardim é como parir um filho. É preciso que o jardim se forme primeiro, como sonho. Li isso pela primeira vez nos escritos do místico Angelus Silesius: “Se você não tiver um jardim dentro de você, é certo que você nunca encontrará o Paraíso!“ Traduzindo: se o jardim não estiver dentro o jardim de fora não produzirá alegria. Rickert tem um poeminha que diz assim: “Nossos dias são curtos, mas com alegria os vemos passando se no seu lugar encontramos uma coisa mais preciosa crescendo: uma flor rara, exótica, alegria de um coração jardineiro... Uma criança que estamos ensinando. Um livrinho que estamos escrevendo.“ Se tivermos um coração jardineiro a passagem do tempo, a velhice chegando, a morte espreitando, deixam de ser uma experiência de dor. Plantar um jardim é uma liturgia para exorcizar a morte. Eu me alegro olhando para as árvores pequenas que estarão grandes depois que eu ficar encantado.


O escritor Rubem Alves disse que no início de todas as coisas, Deus não criou uma cidade, mas um jardim. Na medida em que ia construindo percebia sua beleza e encantamento. Pessoalmente, portanto, Deus resolveu “habitar” o jardim, tão maravilhado que ficara com sua obra. 
As observações de Ruben Alves tocaram –me muito. Nas questões referentes à mulher esposa, a profissional, a maternidade e a educação dos filhos. 
Durante trinta e dois anos trabalhei cumprindo os dois papéis sem desmerecer minha escola, nem traumatizar meus filhos.
Como mãe educadora sei que o instinto maternal pode-se tornar fonte de uma possessividade nociva ao desenvolvimento da criança, que, enquanto amadurece, deve se desligar progressivamente da mãe. Justamente aquela que foi tudo para o filho e ele tudo para ela, custa muito mais a aceitar esse desligamento. Essas mães continuam a tratar os filhos como bebês, têm ciúmes de qualquer outra influência, tentam defendê-los de tudo que possa trazer qualquer risco. Quando a solicitude continua da mãe é indispensável.
Não se tem prova que se a mãe tiver atividades exteriores prejudicará as crianças, pelo contrário, aprovo as palavras de Betty Friedan, notou que as crianças russas cujas mães trabalharam fora são mais estáveis do que as americanas.
A criança precisa de amor, uma qualidade superior de amor, um amor desinteressado. Pode acontecer que uma mãe com pouco tempo disponível tenha um contato pessoal bem mais fecundo, pois ela própria sente-se mais evoluída, mais disponível e mais generosa. São as mulheres que conhecem o sentido da pessoa e o contato pessoal ao qual é predisposta por natureza, mas que deve ser cultivado.


Quanto ao meu jardim, cada flor semeada é única, tratada com credibilidade, sem medos e com aceitação. No meu jardim a chegada de cada filho veio com esta naturalidade em se formar uma família!"

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